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filme King Kong (1976)


Uma casualidade fez-me colocar o filme King-Kong (1976) a passar em DVD e fiquei de imediato agarrada. Logo no início do filme a história agarra, ainda que não se saia do cais do porto e as personagens não estejam a fazer nada de extraordinário.

É raro hoje em dia fazerem um filme em que todos os intervenientes tenham o seu espaço. Ali os actores cujas personagens não passam de coadjuvantes se têm algo a fazer e o podem fazer com falas, fazem-no. A câmara não se esquiva deles, tornando-os os mais secundários e apagados possíveis. Não. Até grandes planos de personagens secundárias se fizeram só para esta gritar "está feito!". 

E isso me agrada, porque não gosto de ver um filme em que todas as cenas são com o ator principal e os secundários são silhuetas disformes ou escurecidas no plano ou vozes fora de cena. Para vedetimos que façam monólogos. E depois, imagino o actor que participa num grande filme e não tem como o provar. Porque um filme é feito por milhares de pessoas e garanto que todas devem sentir satisfação por terem contribuído para tudo aquilo. Mas alguns - a maioria, mesmo entre actores, não vão poder dizer: "aquele ali sou eu!", vários anos depois, para mostrar aos netos, entendem? Porque a maior parte das vezes estão ali só a encher. No caso desta versão de King-Kong isso é o menos verdade possível. Então sei que algures um homem diz para uma criança: "este que gritou «está feito» sou eu!" e a criança vai ficar vidrada naquele segundo em que o rosto do avô surge na tela, provando que ele fez parte daquele "grande" filme.

 Mas o filme é fantástico em muitos outros sentidos. Para mim é o melhor que já vi sobre a história do King Kong. Ele baseia-se mais na história do que no fantástico. Sim, foi feito um boneco de 14 ou 12 metros de altura. Sim, foi gasto dinheiro... mas e daí? Ao menos com todas essas condições fizeram um filme de jeito, e não se limitaram a um show de efeitos especiais e falsos pretextos para exibir ainda mais a espectacularidade dos mesmos.



Kong não se destaca e faz todo o filme, ele o complementa e sobressai quando é para sobressair. Nesta versão temos uma criatura gigante mas com coração. Kong é um romântico. Ele se encanta por aquela criatura branquela e loura que é tão diferente de todas as que já lhe haviam sido oferecidas. Ganha-lhe estima como algumas pessoas ganham imediata simpatia por um animal de estimação a primeira vez que o olham numa loja ou lugar de venda qualquer. Kong, o gigante, agarra-a na palma da mão com uma delicadeza que só podemos imaginar. Como é que aquele gigante no decorrer de tanta agressão continua a segurar a sua querida e não se descuida e lhe esmaga os ossitos todos é a prova do quanto sente genuína afeição por ela. Seria o equivalente de um ser humano adulto segurar na mão uma frágil borboleta e conseguir não a machucar, nem sequer nas delicadas asas. 

Jessica Lange tem um ar fresco e atraente como se deseja para a personagem. Ela passa o filme todo a tapar as pernas com a parte de trás do vestido da cerimónia de sacrifício - vai-se lá perceber. Podia ficar descansada que estava menos exposta com aqueles dois trapinhos compridos do que com os calções shorts que usava antes do rapto. A sensualidade por vezes transparece não na irreverência da indumentária mas na ousadia da simplicidade de outras. Deduzo por este pequeno pormenor que a actriz não estava assim tão confortável com a ideia de interpretar uma daquelas personagens femininas que são todas boas, usam decotes avantajados e vão ficando cada vez com menos roupa à medida que a história avança... Mas não tem com o que se preocupar. Se esteve não deixou transparecer. Até porque chega Jeff Bridges que prontamente a salva e lhe entrega a camisa, ficando agora ele de tronco nu. Uma pena não usar a moda de agora, que é uma t-shirt normalmente branca com uma camisa :) Assim escusava ele, também a certa parte do filme, de se sentir um tanto "desnudo". Um "herói" parcialmente desnudo deixa actores apreensivos...

Mas não era sobre nada disto que me queria alongar. Onde queria perder mais tempo já que tanto mais já se pode saber sobre este filme é exatamente por onde comecei a o relatar. No detalhe de todos os que nele participaram como atores eram de facto bons. Inclusive os que faziam os papéis mais secundários, com poucas ou nenhumas falas. Percebe-se de imediato logo na cena de abertura, que se passa no cais de embarque. Dentro do navio também vamos percebendo quem é parte da tripulação. Por exemplo, o cozinheiro é um rapaz oriental. Se tem falas não percebi mas em alguns planos parece estar "presente" em cena, como um simples homem que gosta de olhar para uma mulher atraente por exemplo, ou um expectante membro da tripulação a observar a partida dos pesquisadores. Mas não está ali só a preencher o espaço, à espera que os atores principais terminem a cena. Entendem o que quero dizer? Tem presença. Não é um figurante de "encher" o ecrã. Mais tarde já volto a ele.

Foram todos bem escalados para os papéis. Um nome durante o genérico final captou a minha atenção: Selznick. Rebobinei e fui ver: o nome era Joyce Selznick. Ora, para um cinéfilo mais ou menos informado, sabe que este apelido está diretamente relacionado com um período importante da história da época dourada do cinema de hollywood. David O' Selznick foi um produtor de renome, responsável pelo grande filme "E tudo o Vento Levou" (1939). Claro que pela altura de 1976 não esperava que fosse ele mas segui o instinto e confirmei que Joyce Selznick era uma sobrinha sua, que trabalhou anos como directora de elenco e agente. Ou seja: por ela (e seus associados) também passou a decisão de achar e contratar os actores certos para os desejados papéis. Será que era a ela que se devia esta atenção de casting que acabara por observar? 

Rick Backer
Ter pesquisado a ligação desta Selznick levou-me a um link com o nome do elenco de King-Kong. E foi aí que me impressionei mais. Porque confirmei com um vislumbre esta impressão de que o casting foi muito bem pensado. Reparei que ao lado dos nomes e das fotografias dos actores, agora quase 40 anos mais velhos, não existiam os habituais indícios de falta de actividade profissional ou desaparecimento por morte. Quase todos ainda vivos, e activos. Segui um link curioso: o do actor que fez de King-Kong. Sim, eles usaram robots mas também tiveram cenas em que foi preciso um homem num fato. Essa pessoa, reconheci-a pelo olhar, foi o artista de maquilhagem Rick Backer. Bom, é tão vasto o CV deste homem que trabalhou como maquilhador ou criador de efeitos especiais em filmes como Um Lobisomem americano em Londres (1981), o video-clip Thriller (Michael Jackson 1983), até o mais recente Homens de Negro 2 e 3 (2002/2012) passando pela série de TV "A bela e o mostro" (1987/90) que mais vale espreitarem o link acima. 

Sabemos que os atores principais, Jeff Bridges e Jessica Lange ainda andam por aí. Os restantes não se sabe tão bem. Mas nesse vislumbre deu para perceber que continuaram todos a progredir nas carreiras. Charles Grodin, que fez o ambicioso Fred, é um actor conhecido do grande público por entrar em várias séries de TV conhecidas. Mas também entrou em filmes populares como Beethoven (1992). O actor que faz o capitão do navio neste filme, John Randolph já faleceu, mas também ele vinha e continuou a ter uma carreira evolutiva em TV e cinema. Era ele, a exemplo, o senhor da livraria tradicional no filme estrelado por Tom Hanks e Meg Ryan "Você tem uma mensagem" (You got mail - 1998). E lembram-se de ter falado no rapaz oriental, cozinheiro em King-Kong que, se teve uma fala nem sequer a percebi? Pois tratava-se lá em 1976 de John Lone, actor que veio a interpretar o papel do Imperador Pu Yi em adulto, no filme "O último Imperador" (1987). Fez também mais alguns filmes, de acção principalmente, como o Hora de Ponta 2 (2001).

Não é tão comum assim ver um vasto elenco que participou num grande filme progredir na carreira conseguindo sempre viver vários momentos altos. Isso só acontece se forem todos muito bem escolhidos. Pelo seu talento como atores.

Dino de Laurentis
Para finalizar esta «homenage» ao filme King Kong de 1976, termino por dizer que descobri neste "passeio" por links para confirmar se de facto o artista de maquilhagem foi realmente o homem que vestiu o fato e não um ator como é habitual (já que a pessoa que o fez não recebeu crédito no filme) e visto que várias fontes o referenciam, descobri numa delas a curiosidade sobre outras actrizes que também prestaram provas para o papel de Dwan. Uma foi Meryl Streep que ao terminar a audição percebeu que o produtor Dino de Laurentis (outro nome bem firmado do panorama artístico) a rejeitou de imediato ao concluir "é feia" na sua língua materna (Italiano). Desconhecendo que Meryl percebeu a crítica que a "chumbou". Ou seja, para o papel não era atraente o suficiente ou não possuía o tipo de beleza que Laurentis procurava e acabou por encontrar em Jessica Lange. Meryl entretanto construiu uma carreira tal que pode sentir-se "vingada" por todos os papéis desejados que lhe viu serem recusados :) Além de que pior seria se o produtor tivesse comentado que não era talentosa.

Outra curiosidade sobre este maravilhoso filme: Bo Dereck foi uma das actrizes que recusaram de imediato o papel. 


 
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